QUAL O PAPEL DO PERIODONTISTA NA ODONTOLOGIA?

Confira, na íntegra, uma entrevista realizada com a Profa. Dra. Gisele Lago Martinez, coordenadora pedagógica do Instituto Aria.​

​A pergunta feita no título deste artigo é exatamente para situar onde está o periodontista na Odontologia, sendo o profissional responsável pela reabilitação do paciente na saúde, estética e função.​

​Esse é o grande papel do periodontista nessas três áreas. Para entender mais sobre a especialidade, entrevistamos a Dra. Gisele acerca desse assunto, confira as respostas a seguir:​

Por que escolheu essa área de atuação?

​Essa não era minha primeira opção. Na verdade, no ciclo básico da faculdade, quando ainda não temos aquelas matérias específicas de Odontologia, eu era apaixonada por Imunologia e Microbiologia.​

​Aquilo me fascinava tanto que, quando chegou no início do ciclo profissional, a Periodontia foi a disciplina que me fez entender como eu poderia colocar em prática todo aquele conhecimento de imunologia e microbiologia dentro do consultório com meu paciente, isso foi o que mais me encantou e me levou para a Periodontia.​

Qual a importância do periodontista na vida dos pacientes?

​Um dos grandes desafios que o periodontista enfrenta é conseguir mostrar a importância da Periodontia, porque o periodonto é algo muito difícil de ser apresentado para o paciente, já que ele não consegue visualizar ou mesmo sentir.​

​Por exemplo, a periodontite não causa dor no paciente, não incomoda, acontece um processo inflamatório dentro de uma bolsa periodontal que é praticamente imperceptível para o paciente leigo, sendo muito difícil para ele visualizar aquilo. ​

Fazer um tratamento e não conseguir visualizar o resultado, é um desafio muito grande para o paciente. Fui criando técnicas para mostrar ao paciente o que era o periodonto, o que era um processo inflamatório, o que causaria sequelas, o que iria atrapalhar na sua vida, na sua saúde, na sua função mastigatória e na parte estética. ​

​Foi um trabalho desenvolvido pelo meu lado acadêmico, durante a graduação, e depois nos cursos de especialização. Eu comecei a produzir material que eu pudesse tanto ensinar os meus alunos nos cursos quanto dentro do consultório para os meus pacientes, e esse material didático foi muito importante para eles conseguirem visualizar o que era a periodontia e entender a importância do periodontista.​

Quais são as dificuldades no meio do caminho do periodontista?

​Os desafios não são poucos. Na parte de diagnóstico, às vezes nos deparamos com obstáculos que acreditávamos que o clínico recém-formado já teria um bom domínio e, ainda assim, vemos a necessidade de mais experiência sobre o assunto, como também encontramos desafios na área cirúrgica. ​

​A Periodontia é uma especialidade que tem a necessidade de ser introduzida muito cedo na Odontologia. Durante a graduação, normalmente no quarto ou quinto semestre isso já acontece. Porém, a Periodontia também exige uma destreza manual que você só consegue mais ao final do curso. ​

​Na graduação, o nosso recém-formado fica limitado a um processo muito básico de raspagem supra e subgengival, com grande dificuldade de interpretação no diagnóstico para conseguir diferenciar o que realmente é uma periodontite, o que são doenças e o que que é uma condição do periodonto, quais são essas condições do periodonto, o que está causando, quais são os fatores que levam àquela alteração no periodonto e como corrigir essas alterações. Além disso, o manuseio do tecido periodontal também exige muita prática.​

​Para o periodontista também existem diversas outras formas de tratamento, com as terapias complementares, como a laserterapia e ozônio. Mas, conseguir acompanhar um paciente com esse tipo de tratamento complementar é muito difícil durante a graduação, por isso fazer um estágio dentro de um consultório, com um periodontista, pode ajudar a entender qual realmente é o dia a dia de um profissional especialista na área.​

Hoje, olhando para trás, acha que valeu a pena ter escolhido essa área?

​Ao olhar para trás me questiono: será que eu fiz a escolha certa naquele momento de recém-formada, com aquela grande ansiedade de me tornar especialista, será que escolhi a especialidade certa?​

Mas hoje vejo que eu escolhi a especialidade tão ideal para mim, porque a minha ideia inicial era começar como periodontista e seguir para implantodontia e prótese, mas a Periodontia me abraçou de uma forma que eu não conseguia ter espaço para outras especialidades.​

É uma área em que existem muitas oportunidades de trabalho?

​Um periodontista precisa de muito estudo e dedicação, a quantidade de pacientes e o retorno disso na clínica acontece.​

​O meu tempo ficou muito restrito à Periodontia porque cada vez que você vai se aprofundando naquela especialidade, torna-se mais uma referência para os pacientes e a demanda aumenta, tanto diretamente pelos pacientes quanto pelos colegas que passam a te indicar.​

​Sou apaixonada pela Periodontia, trabalho como periodontista em todas as áreas. Ocupo a minha agenda clínica, porque a demanda de pacientes em relação à necessidade de periodontia é tão grande no mercado, que chega a parecer que existe uma deficiência na quantidade de profissionais, mas a verdade é que quase todos os pacientes precisam de atenção periodontal, seja ela como eu disse por estética, por saúde ou por função.​

Como reconhecer um bom profissional?

​Como periodontista, para mim é fácil reconhecer outro profissional de qualidade, reconhecemos isso com uma conversa simples de uma discussão de caso clínico, quando o profissional apresenta as discussões com embasamento científico, com respaldo na ciência, com domínio do conhecimento. ​

​É exatamente isso que trabalhamos bastante nos cursos, para ter esse domínio sobre o conhecimento, para ter a confiança tanto de uma discussão com um colega de profissão quanto para a apresentação de um caso para os seus pacientes.​

O que é necessário para se tornar um periodontista?

​Para se destacar em uma carreira você precisa se dedicar! Só se destaca quem se dedica, quem passa a madrugada acordada estudando, quem aceita ir para qualquer lugar para conseguir ter conhecimento.​

​Isso é importante para todas as áreas, para periodontia especificamente, como eu mencionei, é uma limitação da graduação a demonstração real do que a atuação do periodontista, entender que periodontia não é só raspagem.​

O que você tem a dizer para um profissional em formação sobre essa área de atuação?

​Eu vou propor uma autoavaliação, um teste para você observar como está o seu conhecimento, a sua prática periodontal, quando você faz o tratamento de um paciente, uma terapia de raspagem.​

​Você chama novamente esse paciente e faz pela segunda vez o periograma. Quando você compara com o primeiro, de antes do tratamento, com o segundo, depois do tratamento, como você consegue dizer se esse paciente realmente alcançou o sucesso? ​

​Ele realmente conseguiu diminuir a quantidade de bolsas profundas dentro do esperado? Você sabe me dizer quais são os resultados esperados para as bolsas profundas em dentes molares? Uma bolsa de 8mm pode reduzir até quanto depois de um tratamento periodontal? Essas são perguntas iniciais sobre seu tratamento como periodontista.​

​Depois partimos para autoavaliação desse paciente, se ele teve sucesso ou não. Categorizamos esse paciente em três grupos: o que teve uma boa resposta; o que teve um processo de cicatrização, mas que ainda tem a presença de um processo inflamatório e o paciente não responsivo. Como classificar esses três pacientes? ​

​E, por último, nossa última pergunta para autoavaliação das suas práticas periodontais: sobre esse paciente não responsivo, e agora, como que eu continuo o tratamento dele? ​

​Me responda essas três questões acerca do seu tratamento e me conta um pouco sobre a sua experiência da prática periodontal.​

Essa foi uma entrevista realizada com a professora GISELE MARTINEZ CRO: 10032-DF: 

  • Especialista em Periodontia.​
  • Mestre e Doutora em Ciências da Saúde-Periodontia Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Karolinska Institutet (KI), Estocolmo/Suécia.​
  • Pós-doutorado no Karolinska Institutet (KI).​
  • Membro do Internatiinal Team for Implantology (ITI).​
  • Membro do National Osteology Group Brazil Foundation (NOGB).​
  • Aperfeiçoamento em pesquisa pelo Instituto Nacional do Câncer–RJ (INCA).​
  • Revisora científica do periódico Journal of Periodontal Research.​
  • Coordenadora Pedagógica do Instituto Aria.​